sábado, 30 de julho de 2011

Arquitetura Neocolonial e seus reflexos na arquitetura modernista


Nossas casas não denunciam o país (...) Dentro de um salão Luís XV somos uma mentira com o rabo de fora.
 Monteiro Lobato, ao mostrar-se contra o ecletismo arquitetônico, e à favor de uma arquitetura genuinamente brasileira.


O movimento que passou a história da arquitetura como “Estilo Neocolonial” gozou de grande preeminência na cena cultural no país. Embora hoje quase esquecida, fez parte de um novo comportamento cultural que caracteriza o período republicano no Brasil (1889-1930), que buscaria uma identidade brasileira, as raízes de uma nação que então ressurgia em uma estrutura republicana.
A conferência A Arte Tradicional no Brasil realizado em 1914, na Sociedade de Cultura Artística de São Paulo constitui o marco do movimento neocolonial. Na conferência, o engenheiro português radicado no Brasil, Ricardo Severo proferiu o discurso sobre o tema Culto á Tradição, nele defendeu o estudo da arte colonial para “perfeita cristalização da nacionalidade”. O culto a tradição e a exaltação das raízes culturais e étnicas portuguesas estão na base da defesa de uma arte brasileira e de um “renascimento arquitetônico” nas palavras de Severo. 
Reabertura do Largo da Memória (São Paulo, SP) 1922. Projeto de reurbanização realizado pelo arquiteto francês Victor Dubugras, nome consagrado do movimento colonial. Fonte: http://www.itaucultural.org.br



Iniciava-se assim um movimento que procurava dar ao Brasil, uma arquitetura que se entendia nascida de suas tradições culturais. O movimento colonial buscava, sem dúvida alguma, as raízes da cultura arquitetônica produzida no Brasil; era a busca de uma identidade brasileira que refletisse a nossa continuidade no tempo e nossa permanência no espaço.


                         Casa Neocolonial em Salvador. Fonte: Maria da Graça Santos.

Nessa busca pelas nossas raízes, especialmente, dois movimentos aparentemente opostos, irão definir a produção de nossa arquitetura: um, a busca de uma arquitetura tradicional, com raízes na produção do passado colonial que seria denominado arquitetura neocolonial, e outro, a proposta de uma arquitetura completamente nova, estranha à cultura brasileira, com modelos importados, a arquitetura modernista.

E tão logo o movimento modernista assuma a liderança, e conduza a arquitetura dentro dos novos modelos da vida contemporânea, essas raízes do nosso passado arquitetônico irão permanecer na arquitetura modernista, com as indeléveis mudanças causadas pela industrialização recente.  Azulejos, treliças, os beirais, as varandas generosas e os pátios ensolarados, bem como a sua forma de sentir, seus fazeres e seus pensares, todas as marcas que diferenciavam da produção feita em outros cantos, mantendo a identidade do povo brasileiro.



Residência da Rua Itápolis, Arquiteto Gregory Warchavchik (imagem do livro Warchavchik e as origens da arquitetura no Brasil, 1981); Edifício do MÊS; pilotis e azulejos de Cândido Portinari ao fundo. Fonte: http://www.arquiteturamodernacapixaba.kit.net/


Bibliografia:
KESSEL, Carlos. Estilo, Discurso, Poder: Arquitetura Neocolonial no Brasil. Artigo Doutorado História Social. IFCS-UFRJ. Campinas, 1999.
SANTOS, Maria da Graça. Arquitetura Moderna Brasileira, dos pioneiros á Brasília (1925-1960). da Vinci, Curitiba, v.3 n.1, p.37-56, 2006

 
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